terça-feira, 10 de março de 2009


Escolho meus amigos não pela pele ou outro arquétipo qualquer, mas pela pupla. Tem que ter brilho questionador e tonalidade inquietante. A mim não me interessam os bons de espírito nem os maus de hábito. Fico com aqueles que fazem de mim louco e santo. Deles não quero resposta, quero meu avesso. Que me tragam dúvidas e angústias e aguentem o que há de pior em mim. Para isso só sendo louco. Quero-os santo para que duvidem das diferenças e peçam perdão pelas injustiças. Escolho meus amigos pela cara lavada e alma exposta. Não quero só o ombro ou colo, quero também a maior alegria. Amigo que não ri junto não sabe sofrer junto. Meus amigos são todos assim: metade seriedade. Não quero risos previsíveis nem choros piedosos. Quero amigos sérios, daqueles que fazem da realidade sua fonte de aprendizagem, mas lutam para que a fantasia não desapareça. Não quero amigos adultos nem chatos. Quero-os metade infância e outra metade velhice. Crianças para que não esqueçam o valor do vento no rosto e velhos para que não tenham pressa. Tenho amigos para saber que sou. Pois vendo-os loucos e santos, bobos e sérios, crianças e velhos, nunca me esquecerei de que "normalidade" é uma ilusão imbecil e estéril.  
Oscar Wilde

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